segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Projeto de aumento do IPTU é aprovado com 15 votos favoráveis

O Projeto de Lei Complementar (PLC) 1296/2013, que trata do aumento do IPTU, com base na atualização da Planta Genérica de Valores (PGV), com as emendas incorporadas, recebeu na segunda votação, sexta-feira passada, 15 votos a favor, 5 contra – dos vereadores Lino Peres, Afrânio Boppré, Matheus Felipe de Castro, Tiago Silva e Pedro Silvestre (Pedrão). A audiência pública solicitada por parte dos vereadores, para que as comunidades pudessem debater o assunto, não foi aprovada em Plenário.
O projeto permitirá um aumento que poderá passar de 200% no IPTU em algumas áreas e até 500% no Imposto Sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), pago pela pessoa que compra um imóvel, pelo sistema financeiro da habitação, durante a transferência. Esse imposto aumenta de 0,5% para 3%. O atual percentual de 2% do ITBI para as demais transmissões, que é de 1997, passará para 3%, significando um aumento de 50%.
Estes aumentos ocasionaram a reação de vários setores da população florianopolitana, principalmente da classe média de alta renda e setores empresariais ligados ao mercado imobiliário, como ACEMI, SINDUSCON, AMPE e outras.
O vereador Lino elaborou, na Comissão de Viação, Obras Públicas e Urbanismo,  parecer extenso avaliando o PLC, com destaque para o seguinte:
1)                 O PLC, em sua diretriz central conceitual, até busca, pelo menos aparentemente e como explicaremos mais adiante,“isonomia tributária”, isentando ou baixando o IPTU para 40% da população de baixa renda (55 mil pessoas), que tem enfermidades graves, e ofertando desconto a quem tiver iniciativa de utilizar meios que garantam sustentabilidade em suas construções ou meio ambiente, em até 5%.
2)                 Adota uma subdivisão do município em 15 mil setores territoriais e prediais, alcançando uma precisão territorial e predial significativa, bem mais detalhado que a maioria dos municípios brasileiros.
3)                 Tentando compensar anos de falta de atualização da PGV, desde 1997, e com base na subdivisão do município em setores detalhados da cidade, busca cobrar IPTU, à diferença da PGV e IPTU de hoje, em que setores sociais de baixa e alta renda pagam IPTU não proporcional ao valor de seus imóveis, sendo semelhantes de forma relativa, de acordo com alguns critérios sociais e de valor do imóvel ou terreno como: a) adoção do IPTU social para 40% da população de baixa renda; b) isenta de IPTU pessoas com enfermidades graves;  c) implementa o IPTU verde com desconto de até 5%; d) taxa terrenos e imóveis próximos a áreas centrais ou comerciais e de alto valor imobiliário; e) propicia desconto para pagamento à vista, sendo que este item foi reformulado com uma emenda que estende este desconto para 20%.
4)                 No entanto, apesar desta medida de caráter redistributivo e apesar da solicitação deste vereador, a Prefeitura não especificou como chegou no número de 58 mil famílias de baixa renda, incluindo as que participam dos programas habitacionais do governo, como as ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social), Habitar Brasil BID e outros, considerando que parte desta população paga IPTU, a maioria de forma injusta, pois não usufrui dos serviços urbanos.
5)                 Cobra o IPTU e eleva a PGV de forma abrupta para os anos de 2014 e 2015, chegando até 250% a elevação do imposto predial e territorial e, como já mencionamos anteriormente, a 500% no ITBI para imóveis financiados pelo SFH e 50% para transmissões gerais de imóveis do mercado.
6)                 Como assinalamos no nosso Parecer, “falta a definição de um escalonamento mais adequado na implementação da PGV, considerando que são 15 anos de falta de atualização, tendo em vista os reajustes salariais com a inflação ou abaixo, a inflação muito abaixo do valor mencionado e a elevação abrupta, que fere a mínima programação de tempo da sociedade para a nova medida¨.
7)                 Não realizou, pela nossa avaliação preliminar, estudos de análise de impacto em vários aspectos, como, por exemplo, o impacto do IPTU no mercado de aluguéis, podendo atingir setores médios da população, que são, a sua maior parte, impactos de valorização imobiliária para cima com a venda forçada de imóveis com as altas taxas de IPTU e aumento do ITBI.
8)                 Não se definem os critérios utilizados pelo corpo técnico da Secretaria de Finanças da prefeitura para a definição da nova Planta Genérica de Valores e tampouco se deixam claras as razões e “limitador de acréscimo”, com teto de até 50%, tabela de desconto da majoração lançada do IPTU para os imóveis de alto valor imobiliário e de localização em áreas centrais.
9)                 Segundo dados da Secretaria de Finanças da prefeitura, em 1997, a arrecadação total do mercado imobiliário ficou em torno de 12 bilhões e neste ano está em torno de 55 bilhões, o que demonstra que a PMF não necessitaria elevar de forma tão repentina o IPTU e ITBI, pois há excedente arrecadatório. Na forma como serão cobradas estas taxas, haverá uma transferência de renda para os cofres públicos, como assinalou o vereador Afrânio Boppré.
Dentre todos estes itens assinalados, o que mais provocou reação da sociedade foi o prazo exíguo de discussão do PLC 1296/2013. Não houve tempo para estudo e debate, conforme já assinalamos anteriormente no presente Parecer. O prefeito Cesar Souza Júnior não promoveu Audiência Pública, e a audiência proposta na Câmara de Vereadores foi rejeitada. Estas duas iniciativas, e o fato de que a Prefeitura somente entregou o projeto de lei em novembro, com pouco tempo para debate interno na casa legislativa, ferem a diretriz da gestão democrática estabelecida no inciso II do art. 2.º do Estatuto da Cidade e do princípio que deveria imperar, da ampla divulgação e debate em iniciativas como esta, que impactarão de forma imediata a vida dos florianopolitanos.
Pelos méritos sociais que o PLC 1296 se propôs, e que destacamos aqui, mas com sérios problemas na implementação imediata das altas taxas de correção da PGV e elevação do IPTU, na primeira votação nos abstivemos, para que até a segunda votação a prefeitura encaminhasse as Tabelas com os valores reais de reajuste, não explicitados nas Tabelas anexas do PLC 1296/2013, e para que houvesse maior tempo de debate até a segunda votação. Considerando que a segunda votação absurdamente ocorreu 24 horas após a primeira e que até agora a prefeitura não entregou as informações citadas, votamos contra o PLC 1296/2013.
Deixamos claro que nosso voto contrário não foi pelo mérito e objetivos sociais que este projeto busca, apesar de que se contradiz pelas medidas compensatórias de taxação de imóveis de alto valor imobiliário. Somos contrários, sim, à forma como este PLC será implementado: sem prazo de discussão, sem critérios técnicos claros e sem um processo de escalonamento das elevações do IPTU que estivesse mais de acordo com o perfil inflacionário e de custo de vida, além da falta de estudos de impacto no mercado imobiliário e no comércio, que ele certamente ocasionará.


Vereador Lino Peres

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